A quarta noite não dormida
Olhares, tudo começou com olhares. Duas atmosferas diferentes. Dois seres, dois corpos, dois homens.
Língua, acrescenta-se uma letra, a décima nona do alfabeto, logo viram muitas, algumas línguaS. Suor, cheiros, toques. A pele da costa da tua mão na ponta do dedo dele toca, entoca. Logo as palmas se ligam, os dedos se entrelaçam. Choque, soltam-se. As mãos soltam-se.
Parados, alí, os dois no mesmo lugar. Isso não seria/foi possível dias atrás. Talvez não fosse possível nem naquela própria noite, mas era necessário que fosse e então foi. Algo precisava ser dito, ou simplesmente mostrado.
As lentes do óculos do que estava do lado de cá embaçavam-se constantemente, como se tentasse esconder algo que precisava ser visto naquele exato momento.
Enquanto não conseguia ver o que havia a sua frente, ele sentia medo. Mas quando enfim, conseguiu enxergar o que havia alí, o que sentiu não era mais medo, era uma mistura doce de pavor e descoberta. Como se estivesse na frente de um espelho. Conseguia ver o seu próprio reflexo, com todos os seus medos, desejos, sensações e liberdade. Aquilo lhe assustava, mas ao mesmo tempo o puxava para mais perto, onde poderia ver melhor as nuances da linha tênue que dividia o EU do ELE. E quando, no segundo exato que decidiu adentrar a zona atmosférica de tudo aquilo, que agora o envolvia, ele acordou e se perguntou: O que sou?
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