Hoje eu pintei o meu quarto. Eu queria escrever também, escrever um monte de coisas lindas na parede, mas aí acabei desenhando gatos: dois negros e dois pardos. Agora o meu quarto tem uma janela, de onde posso ver várias estrelas (duas são bem visíveis a olho nu). Vejo também dois asteróides.
Ganhei um cabide que veio com um chapéu pendurado, ele parece um "Y" que, de tão cansado de ficar de braços para o alto em reverência ao sol, resolveu amolecer os enrolando para baixo. Ele fica no canto esquerdo de quem olha de frente para a parede onde há o primeiro gato negro.
Tenho estrelas fora do meu quarto, que são as que veem pela minha janela, mas também tenho outras dentro dele. Elas resolveram vir morar aqui, junto com os quatro gatos. Ao total são treze, número de azar para muitos, mas de sorte para mim e para elas, pois elas são sortudas de encontrar alguém como eu, que lhes deu abrigo e que cuidará muito bem delas.
Olhando rápido elas parecem todas iguais, mas se parar para prestar atenção, começamos a notar a diferença na personalidade de cada uma. Tem uma tímida, que fica escondida o tempo todo atrás do mural de fotos, tem outra tristonha, que vive chorando, há também uma gordinha, que está virando bola. Mas eu gosto mais da que fica perto no chapéu perdurado no cabide com forma de "Y". Ela é tão simples, tão sozinha, isso me faz prender a atenção nela durante milésimos de segundos. E foi assim que o meu quarto virou um universo particular.
P.S.: quase me esqueço de mencionar que os gatos estão presos numa espécie de caixa que os interligam através de um fio. Não, não foi eu que os prendi, eu esqueci de dizer que ele são siameses, por isso vivem grudados. E é até bom mesmo eles terem nascido assim, porque pelo menos não fogem daqui. Porque você sabe como é, gato é bicho fujão, só volta pra casa quando a fome aperta.