Três Pontos Seguidos.
Eu o olhei durante seis dias, foi exatamente isso o que aconteceu antes das reticências.
...Eu estendi as mãos para ele e então ele veio, sem medo. Passos calmos, trazendo consigo um sorriso meigo no canto esquerdo da boca. Sereno. Os dentes não estavam amostra e nem precisavam estar, pois isso não importava. Afinal, não era necessário estarem para fora da boca, para que eu soubesse que aquele havia sido o sorriso mais sincero da noite.
Logo após o sorriso, quase no mesmo instante, veio o olhar. Olhar forte, azul-cor-de-céu. As sobrancelhas grossas e bem definidas davam um ar de mistério e encanto ao jeito como ele olhava as coisas. Ele me olhava neste momento. Era como se eu o sentisse invadir a minha mente e desvendar todas as coisas que eu estava pensando, uma por uma.
Seguido do olhar, veio a aproximação. Mais perto, cada vez mais perto. Se contasse no relógio, não passaria apenas de milésimos de segundo aquele momento, mas na minha cabeça, tudo durou muito tempo, o suficiente para não ser esquecido. E mais próximo. Perto. Te aperto contra o meu corpo, as mãos deslizam contra as tuas costas. Te aperto ainda mais. A minha coxa direita entre as tuas pernas, pressão. Pressão da minha coxa contra o teu sexo. Logo a palma da tua mão encontra o meu rosto. Cheiro de cigarro, Peace and love. Atraco os dedos fortemente na tua nuca. As bocas se entreabrem, sinto o teu hálito, coisa doce. Será a tua alma exalando pela boca? Candy. Teus olhos fecham, adormecem. “Onde está o pedaço azul do céu que habita em ti?”, me pergunto mentalmente até você me apresentar o vermelho cor de sangue da tua boca, me mostrando um pedacinho gostoso do inferno.
As línguas entrelaçadas enquanto os corpos se contraem, como se quisesse unir, fundir, foder. E então, no minuto posterior abro os olhos, te olho nos olhos e te digo:
- Prazer, Bruno!
E mais uma vez, a história acaba do mesmo jeito que começou, com a efemeridade de um sentimento vazio e reticências.
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