Um só.

21/12/2011 22:53

Corpos. Dois corpos querendo ser um. O objetivo de se fundir dominava a mente de ambos. Copos de cerveja, cigarros, mais cigarros e mais copos. A energia crescia dentro daqueles dois corpos que, perdidos ali, haveriam de se encontrar mais tarde, na calada da madrugada, entre gestos e falas premeditadas para um alguém.

            Eles se olhavam. Os olhares penetravam-se da forma mais pura possível naquele contato, contato de olhos. A decifração dos códigos enviados pelo corpo do outro. Sorrisos bobos, suspiros, reação do corpo observado e que ao mesmo tempo observava. Eles sabiam que depois daquele momento a noite seria longa.

            Levantaram, partiram juntos. No carro, mais olhares, corpos mais próximos. A mão esquerda dele apoiada na coxa, enquanto à direita, do outro, encontrava-se inquieta no assento entre os dois. Depois de alguns segundos, a mão dele deslizou de onde estava e encontrou a mão do outro. Elas se encontraram, repousou uma na outra, palma com palma, quente, fria, equilíbrio. O primeiro toque da noite. Carícias dos dedos, jogo de gestos. No exato momento onde era proibido o uso de qualquer palavra. Elas não cabiam alí. Somente o gesto, esse sim se fazia correto.

            Elevador, portas, sapatos tirados. Um longo percurso até o quarto. Roupas tiradas, luz apagada. Ouvido de um no peito do outro, enquanto o entrelaçar dos dedos descobria uma nova forma de tocar. Palavras começaram a ser lançadas no ar. Os ouvidos capitavam toda e qualquer forma de som saídos do corpo.

            A respiração, cada vez mais forte ficava. As bocas se encontraram, leve, suavemente se tocavam. O umedecer da língua nos lábios sedentos. O passar das palmas no corpo, descobrindo assim, que aquilo não era proibido. O toque era uma forma de descobrir o que sentiam e o que se passava. Eles queriam, gostavam do que acontecia dentro daquele quarto trancado sobre a cama recém-aquecida.

            Havia a necessidade de algo mais, algo que queria sair, expor-se. Então sessaram os beijos, olharam-se mais uma vez:

- Eu te amo.

- Eu também te amo.

- Acontece que é diferente. Eu sei que me amas, mas eu tenho consciência de que não como eu te amo. Eu te amo mais!

- Duvido.

            Aquela ultima palavra entranhou nos seus tímpanos, fazendo-o calar-se. Nada mais precisava ser dito. Abraçaram-se, o corpo pressionado sobre o outro. Corpos nus, limpos de qualquer impedimento que antes se faziam presentes. Sem pudores, convenções ou medo. Aquela era a essência pura do que muitos chamam de “amor”.

            Talvez não percebessem isso, mas de uma coisa tinham certeza, que eles eram um do outro, e assim sempre o foram, desde o primeiro momento que suas retinas captaram a imagem do outro.

            Beijo e mais beijos. Amasso contra o corpo, contra a parede. Membros rijos, secretos. O corpo falando, querendo, pedindo mais. Então os seus corpos passaram a ser um só, fundiram-se. Os movimentos eram únicos e as sensações assim também se faziam únicas. O maior segredo que pudera haver entre eles. Mas aquele segredo era diferente dos outros, pois a maioria dos segredos sãos obscuros, mas aquele não, aquele era claro e puro.

            Os corpos adormeceram. Quando se deu conta, já era de manhã e tudo havia se perdido no silêncio da madrugada que passara.

            Levaram exatamente quinze minutos entre o acordar ao lado dele e o partir. Observou o corpo desnudo sobre a cama. Pensou em ficar, mas tinha que partir, naquele minuto, era necessário. Uma despedida seca, sem adeus, abraços ou sequer um beijo de até mais. Ele não sabia se iria haver um “mais” depois daquele “até” algumas horas de amor incandescente no ocultar do céu escuro.

            Antes de partir, de definitivamente ir embora, deixo na escrivaninha um bilhete e uma carta que escrevera há alguns meses atrás. Carta que contava o que se passava dentro dele, ou melhor, dentro deles, porque eram e sempre seriam um só.

 


 

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